Contra
senso insensato, pois, para Antígona a vida só é abordável, só pode ser vivida
e refletida a partir desse limite em que ela já perdeu a vida, em que ela está
para além dela – mas de lá ela pode vê-la, vivê-la sob a forma do que está
perdido.
É
também de lá que a imagem de Antígona aparece-nos sob o aspecto que,
literalmente, diz-nos ele, faz o Coro perder a cabeça, inflige as justas
injustiças, e faz o Coro transpor todos os limites, jogar fora todo o respeito
que ele pode ter pelos editos da Cidade.Nada é mais comovente do que esse hímeros enarges, esse desejo visível
que se desprende das pálpebras da moça.
A
iluminação violenta, o clarão da beleza, coincidem com o momento do
franqueamento, da realização da Até de
Antígona [...]. (Lacan,
1986, A ética da psicanálise, p. 339)
E a fórmula mais geral que lhes dou da
sublimação é esta – ela eleva um objeto – e aqui não fugirei Às resonância de
tracadilho que pode haver no termo que vou introduzir – à dignidade da Coisa. (
Lacan,1986, Aética da psicanálise, p.140)
A noção de criação deve ser promovida
agora por nós, com o que ela comporta, um saber da criatura e do criador, pois
ela é central não apenas no nosso tema, o motivo da sublimação, mas no da ética
no sentido mais amplo. [...] Estabeleço isto, um objeto pode preencher essa
função que lhe permite não evitar a Coisa como significnte, mas representá – la
na medida em que esse objeto é criado.
((Lacan, 1986, A ética da psicanálise, p. 150)
É um objeto dito de anamorfose. Penso
que muitos sabem o que é – é toda espécie de construção feita de tal maneira
que, por transposição ótica, uma cert forma que não é perceptível à primeira
vista, se reúne emuma imagemlegível. O prazer consiste em vê-la surgir de uma
forma indecifrável.( Lacan, A ética da psicanálise, p. 169)
No momento em que Cézanne pinta
maçãs, trata-se evidentemente de que pintando maçãs ela faz algo bem diferente
de imitar maçãs – embora sua última maneira de imitá-las, que é a mais
impressionante, seja a mais orientada para a técnica de presentificação do
objeto. [...] Cada qual sabe que há um mistério na maneira que tem Cèzanne de
pintar maçãs, pois a relação com o real, tal como neste momento se renovana
arte, faz então surgir o objeto de uma maneira que é lustral [...].( Lacan, A
ética da psicanálise, p. 176))