“[...] a psicanálise faz alguma
coisa. Faz, mas, não basta, o essencial, o ponto central é a visão poética
propriamente dita, a poesia também faz alguma coisa. Observei em outro lugar,
assim de passagem, por ter me interessado um pouco pelo campo da poesia, quão
pouco temos nos ocupado com o que isto faz, e a quem, e sobretudo, - por que
não ? – aos poetas”.
LACAN,
1967-68, Sem. 15, lição de 15/11)
“[...] a psicanálise não é mais engodo do que
a poesia [...] A poesia se funda precisamente sobre esta ambigüidade de que
falo e que qualifico de duplo sentido. Se com efeito a língua – é aí que Saussure
tem seu ponto de partida – é fruto de uma maturação, de uma madurez que se
cristaliza com o uso, a poesia resulta de uma violência feita a este uso [...]”.
(LACAN,
1976-77, Sem. 24, lição de 15/02)
“A astúcia do homem é enfrentar
tudo isto, eu lhes disse, com a poesia, que é efeito de sentido, mas, também de
furo. Não há mais que a poesia, eu lhes disse, para a interpretação. É por isto
que eu não faço mais em minha técnica, ao que ela sustenta, não sou bastante poâte .”
(LACAN,
idem, lição de 17/5)
“Ser eventualmente inspirado por
algo da ordem da poesia para intervir como psicanalistas? É bem nessa direção
que é preciso que vocês se voltem, porque a lingüística é uma ciência muito mal
orientada. Ela só se eleva a medida em que Roman Jakobson
aborda, sem peias as questões de poética. A metáfora, a metonímia só contribuem
para a interpretação quando são capazes de fazer função de outra coisa, através
da qual som e sentido se unem estreitamente. É na medida em que uma
interpretação justa extingue um sintoma que podemos dizer que a verdade se
especifica por ser poética.”
(
LACAN, idem, lição de 19/04)
DANTE ALIGUIERI:
“O privilégio desta construção
poética [a de Dante] em relação à teoria – a teoria psicanalítica, se vocês
quiserem, a teoria psicanalítica a seco – refere-se a uma certa forma de
ascese privilegiada ao Outro [...] é a
do amor cortês na qual podemos localizar de uma maneira iminente os termos I(
Ideal do eu), a (o objeto a) i(a) (imagem do a, o fundamento do eu)”.
(
LACAN, 1965- 66, Sem. 13, lição 19/01)
“Falei a pouco de Dante e de sua
topologia finalmente ilustrada em seu grande poema. [...] Ele escreveu Vita Nova.ele escreveu Vita Nova em torno do problema do
desejo, e na verdade, a Divina Comédia não
poderia ser compreendida sem este preâmbulo. Mas certamente, no De Vulgaris, ele manifestou o mais vivo
sentido do caráter primeiro e primitivo da linguagem, da linguagem materna, diz
ele, opondo-a a tudo que era, em sua época, afeição, recurso obstinado a uma
linguagem eruditae, para dizer tudo, primazia da lógica sobre a linguagem.”
(LACAN,
idem, p.32)
MALLARMÉ
“Com efeito, se pensássemos no
que é a poesia, não haveria nada de surpreendente em perceber que Mallarmé se
interessava vivamente pelo significante. Mas, ninguém jamais abordou o que é
verdadeiramente a poesia. Oscila-se entre sei lá eu que teoria vaga e movediça
sobre a comparação e uma referência a sabe-se lá que termos musicais, mediante
o que se pretende explicar a pretensa falta de sentido em Mallarmé. Em suma não
se percebe em absoluto que deve haver uma maneira de definir a poesia em função
das relações entre significantes. A partir do momento em que se produz uma
fórmula talvez um pouco mais rigorosa da poesia, como fez Mallarmé, é muito
menos surpreendente que ele seja questionado em seus mais obscuros sonetos.”
( LACAN, 1957-58, Sem. 5, p.59)
“Esta realização da linguagem que
não serve mais senão como uma moeda
apagada que se passa em silêncio – frase citada em minha comunicação de
Roma e que é de Mallarmé, mostra a função pura da linguagem, que é a de nos
assegurar que somos, e nada mais.”
(
LACAN, 1953-54, Sem.1, p.184)
RIMBAUD
“Ela se expressa muito bem, esta
fulgurante fórmula de Rimbaud – os poetas, eles não sabem o que dizem, como é
bem sabido, sempre dizem, no entanto, as coisas antes dos outros. – [Eu] é um outro.”
LACAN, 1954-55, S.2, p.14)
A une raison
Un coup de ton doigt sur le
tambour décharge tous les sons et commence la nouvelle harmonie.
Un pas de toi c’est la levée des nouveaux hommes et leur marche.
Ta tête se détourne: le nouvel amour!
Ta tetê se retourne: le nouvel amour! [...] Arrivée de toujour, qui
t´em iras partout!
Penso que vocês ouviram este
texto de Rimbaud, que não concluo e que se chama “Por uma razão”. É a fórmula do ato.
(LACAN, 1967-68, Sem. 15,lição 10/1)