Quem sou eu

Minha foto
HÍMEROS è um Colóquio sul-americano sobre essa temática, com 40 trabalhos já confirmados, exposição de pôsteres e vídeos, que serão selecionados, e a pré-estreia de "O ATO" - variações freudianas 2, pela Cia. Inconsciente em Cena. Confira os Palestrantes confirmados com os títulos de suas comunicações em 'PROGRAMAÇÃO'.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

LITERATURA EM LACAN



WEDEKIND:
“Assim um dramaturgo abordou, em 1891, a história do que é, para os meninos adolescentes, fazer amor com mocinhas, assinalando que eles não pensariam nisso sem o despertar de seus sonhos. Notável por ser encenada como tal: isto é, por demonstrar que isso não é satisfatório para todos, chegando a confessar que, se é mal sucedido, é para todo mundo. O mesmo que dizer que se trata do nunca visto. [...]”
            (LACAN, 2003, Outros escritos. “Prefácio a - O despertar da primavera”, p.561)

“Ou será uma questão de época, já que o dramaturgo, na data que assinalei, antecipa Freud, e muito? Pois podemos dizer que, na referida data, Freud ainda cogita sobre o inconsciente e, quanto à experiência que instaura o regime deste, nem sequer a terá , ainda posto de pé quando da morte de Wedekind. [...]”
                                                                                   (LACAN, 2003; idem, p. 557)
.................................................................................................
MARGUERITE DURAS
“Arrebatamento – essa palavra constitui para nós um enigma. Será objetiva ou subjetiva naquilo em que Lol V. Stein a determina? Arrebatada. Evoca-se a alma e é a beleza que opera. Desse sentido ao alcance da mão iremos desembaraçar-nos como for possível, com algo do símbolo. Arrebatadora é também a imagem que nos será imposta por essa figura de ferida, exilada das coisas, em quem não se ousa tocar, mas que faz de nós sua presa. Os dois movimentos, no entanto, enlaçam-se numa cifra que se revela por esse nome sabiamente formado, pelo contorno de sua escrita: Lol V. Stein. Lol V. Stein: asas de papel, V tesoura, Stein, a pedra – no jogo do amor tu te perdes. Respondemos: Ó, boca aberta, o  que quero eu ao dar três saltos na água, em impedimento no amor, em que mergulhado estou? Essa arte sugere que a arrebatadora é Marguerite Duras, e nós, os arrebatados. Mas se, ao calcarmos nossos passos nos passos de Lol, que ressoam em seu romance, nós os ouvimos a nossas costas sem haver encontrado ninguém, será porque sua criatura se desloca num espaço desdobrado, ou será que um de nós passou através do outro, e quem dela ou de nós deixou-se então atravessar?
                                                                            (LACAN, 2003; Outros escritos, p. 198)

“Pois você sente que se trata de um envoltório que já não tem dentro nem fora, e que, na costura de seu centro, todos os olhares convergem para o seu, eles são o seu que os satura e que, para sempre, Lol, você reivindicará a todos os passantes. Acompanhemos Lol, captando na passagem de um para o outro esse talismã de que todos se livram às pressas, como se fosse um perigo: o olhar.”
                                                                                          (LACAN, 2003; idem, p.201)

“E eu me detenho no fato de Marguerite Duras me atestar que recebeu de seus leitores um assentimento que a impressiona, unânime, referente a essa estranha forma de amor: aquela que o personagem que assinalei ter exercido aqui função não do narrador, mas do sujeito, leva em oferenda a Lol, como terceiro que está certamente longe de ser excluído.”
                                                                              (LACAN, idem, p.204)

“Pois o limite em que o olhar se converte em beleza, eu o descrevi, é o limiar do entre-duas-mortes, lugar que defini e não é simplesmente aquilo em que acreditam os que estão longe dele – lugar do infortúnio. É em torno desse lugar que gravitam, pareceu-me pelo que conheço da sua obra, Marguerite Duras, os personagens que você situa em nossa gente comum para nos mostrar que existem em toda parte pessoas tão nobres como foram  os fidalgos e fidalgas nos antigos cortejos, igualmente valentes ao se precipitarem, mesmo presas nos espinhais do amor impossível de domesticar, para a mancha, noturna no céu, de um ser oferecido à mercê de todos... às dez e meia de uma noite de verão.”
                                                                                           (LACAN, idem, p.204)

“Arrebatamento (ravissement) – esta palavra cria um enigma. É objectivo ou subjectivo, na medida em que Lol  V. Stein  o determina ?
    Arrebatada. Evoca-se a alma e é a beleza que opera. Deste sentido ao alcance da mão, desembaraçar-nos-emos como podemos, com o símbolo.
Arrebatadora também é a imagem que nos vai impor esta figura de ferida, de exilada das coisas, que não se ousa tocar, mas que faz de nós a sua presa.
Os dois movimentos atam-se, todavia, numa cifra que se revela deste nome sabiamente formado no contorno do escrever: Lol V. Stein.
Lol V. Stein: asas de papel, V tesoura, Stein a pedra, perdes-te no jogo da amorte ( de La mourre).”
                                  (LACAN, Shakespeare, Duras, Joyce e Wedekind, 1998, p. 123)

“É precisamente o que reconheço no arrebatamento de Lol V. Stein, onde Marguereite Duras prova saber sem mim o que ensino.
Não prejudico o seu gênio apoiando a minha crítica na virtude dos seus meios.
Que a prática da letra converge com o uso do inconsciente é tudo o que testemunharei rendendo-lhe homenagem.
Asseguro a quem lê estas linhas à luz do palco que se apaga ou se acende, ou à as margens do futuro onde  Jean-Louis Barrault, por intermédio destes Cadernos, espera poder abordar a conjunção única do acto teatral, que do fio que vou desenrolar  não há nada que se refira ao texto d’ O Arrebatamento de Lol V. Stein, que um outro trabalho feito actualmente na minha escola permite pontuar. De resto dirijo-me menos na minha escola permite pontuar. De resto dirijo-me  menos a um leitor, do que peço desculpa ao seu foro para me exercer com o novelo que desfio”.

                                                                                  (LACAN, idem, p.125)
............................................................................................
SHAKESPEARE:
 “Ofélia é uma das criaturas mais fascinantes que foi proposta à inauguração humana. O drama do objecto feminino que aparece no início de nossa civilização sob a forma de Helena é, talvez, levado ao seu cume com a infelicidade de Ofélia. Sabem que foi retomado sob inúmeras formas pelos poetas e pintores, pelo menos na época pré-rafaelita, que nos deu quadros esmerados onde se encontram os próprios termos da descrição shakesperiana de Ofélia, flutuando no seu vestido ao sabor  da corrente onde se deixou escorregar na sua loucura – pois o seu suicídio é ambíguo”.
                                  ( LACAN, J. Shakespeare, Duras,  Wedekind, Joyce, 1989, p.20)

“A história de Hamlet  - razão  pela qual a escolhi- denuncia-nos um sentido dramático muito vivo desta topologia e é através disto que possui o seu  excepcional poder de cativação. A técnica do poeta mostrou pouco a pouco, sem dúvida, o caminho a Shakespeare, mas é necessário também supor que ele colocou  aí certas intuições da sua própria experiência.
Uma peripécia está ligada à obra de Shakespeare de tal modo que esta se distingue das tentativas precedentes, tanto das narrativas de Saxo Grammaticus e de Belleforest, como das outras peças de que possuímos fragmentos. Este desvio diz respeito à personagem de Ofélia.
Ofélia encontra-se presente desde a origem da lenda. É então, disse-vos, a isca da armadilha onde Hamlet não cai, primeiramente porque o preveniram, em seguida porque Ofélia não participa nela, apaixonada há muito tempo, diz-nos p texto de Belleforest, pelo príncipe. Talvez Shakespeare se tenha  contentado em aprofundar a sua função na intriga que é de surpreender, de cativar o segredo de Hamlet.
 ( LACAN, Idem,  p.72)
............................................................................................

JOYCE
“Joyce, o Sintoma, a ser entendido como o Jésus La Caille: é seu nome. Que mais se poderia esperar de nomim [d’emmoi]? – eu nomeio. Que isso dê em jovenomem é uma consciência da qual quero extrair uma coisa só. É que somos zomens. UOM [LOM]: em francês, isso diz exatamente o que quer dizer. Basta escrevê-lo foneticamente, o que lhe dá uma faunética (com faun...) à sua altura: o elobsceno [eaubscène]. Escrevam isso com elob... para lembrar que o belo não é outra coisa. Helessecrêbelo, a ser escrito como o hescabelo, sem o qual nãohaum que seja doidg no Du nome diomem. UOM seumaniza [lomellise] à larga. Envolva-se, dizem, é preciso fazê-lo: porque , sem se envolver, não há escabelo.”
                                           (LACAN, 2003, Outros escritos, “Joyce, o sintoma”, p.560)

“Tudo isto só tem importância na medida em que permite aproximar isto, que não é a mesma coisa dizer Joyce o sinthoma ou Joyce o símbolo. Digo Joyce o sintoma – é que o sintoma, o símbolo, abole-o, se me é permitido continuar por esse caminho. Nãp é somente Joyce o sintoma,é Joyce enquanto, se posso dizer, não assinante do inconsciente.
Leiam Finnegans Wake. Hão –de se aperceber que é alguma coisa que joga, não a cada linha, mas a cada palavra, sobre o pun um pun muito, muito particular. Leiam-no não há uma só palavra que não seja feita como as primeiras de que tentei dar-vos o tem com “podrespera”, construída de três ou quatro palavras que se revelam, pelo seu uso, fazer chispa, jaça. É sem duvida fascinante embora  na verdade, o sentido, no sentido que lhe damos habitualmente, perca com isso.”
                                               ( LACAN, Shakespeare, Duras, Joyce e Wedekind, 2007, p.141)

“Ainda preciso dizer algumas palavras que eu tinha preparado sobre a famosa epifania de Joyce, que vocês encontram por toda parte.
Peço-lhes que captem o seguinte. Quando ele faz uma lista delas, todas as suas epifanias são caracterizadas sempre pela mesma coisa, que é, de modo muito preciso, a conseqüência resultante do erro no nó, a saber, que o inconsciente está ligado ao real. Coisa fantástica, o próprio Joyce não diz a mesma coisa. É totalmente legível em Joyce que a epifania é o que faz com que, graças à falha, inconsciente e real se enodem.
Há um ultimo esquema que posso, de todo, desenhar para vocês. Se aqui está o ego como o desenhei para vocês há pouco, nós nos encontramos na condição de ver o nó borromeano se reconstituir. A ruptura do ego libera a relação imaginária, pois é fácil imaginar que o imaginário  cairá fora, uma vez que o inconsciente lhe permite isso incontestavelmente.”
                                                                      (LACAN, J.  2007, Seminário 23, p.151)

“Com efeito, é o falo que tem o papel de verificar que o falso-furo é real.
É na medida em que o sinthoma faz um falso-furo com o simbólico que há uma práxis qualquer,isto é, alguma coisa proveniente do dizer quanto ao que, no caso, chamarei igualmente de arte-dizer [ art-dire], para deslizar rumo ao ardor [ardeur].
Joyce não sabia que ele fazia o sinthoma, quero dizer, que o simulava. Isso era inconsciente para ele. Por isso, ele é um puro artífice, um homem de savoir-faire, o que quer que seja  é o falo, na medida em que ele é o suporte da função do significante, acerca do qual assinalo nesse artigo que ela cria todo  significado.
É preciso ainda, vou acrescentar para retomar  da próxima vez, que haja apenas ele para verificar esse real.”
                                                                                   ( LACAN, idem,p.114)